10.17.2012

RICARDO PASSOS - por SÉRGIO RAMIRES





     A pintura de Ricardo Passos assenta esteticamente na figurabilidade das suas personagens. No entanto, não podemos deixar de dissociar o carácter paradoxal existente entre a representatividade expressamente dita, e a sua estrutura conceptual. Nestas duas vertentes toda a problemática figurativa desemboca na conjugação pacificadora entre dois hemisférios simetricamente opostos … que harmoniosamente se interligam.

     O poder antinómico patenteado na sua pintura não é casual, mas sim uma negação epitética. A sua linguagem não consiste meramente em modificar a expressão da ideia principal pela acessória. A objectividade subjectiva manifesta, atrai dois pólos de polaridades assimétricas. Esta captação antagónica deposita num teor laudativo, na qual as cores se associam a estados de alma e definem equivalências entre cores e conceitos – calor, tranquilidade, frio, excitação – que estão na base da sua pintura.

     Como consequência, o quadro gera uma ordem desligada da realidade apreendida pelos sentidos, e essa organização estende-se só aos objectos e figuras representados, mas também à própria representação do espaço vazio entre eles.

     A distribuição da cor no quadro é conduzida por princípios de harmonia e contraente … como na música. A utilização das figuras humanas nos seus quadros não é gratuita, corresponde à sua concepção sinestésica e transcendental. Daí resulta a síntese das sensações coloridas proporcionadas pelo motivo. No fundo, o estigma providencial inerente nos seus quadros, não pode de forma alguma ser digerida de uma maneira racional e pura, neles transborda uma ambiguidade latente, pseudo carenciada de sistemas pré-
-convencionados.

     É neste prisma que devemos analisar toda a fragmentação expressa em cada um dos seus quadros: na unificação permanente da dissolução.

Sérgio Ramires
2012

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